(ecos)sistemas

“O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato;
é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção.
Representa uma atitude de ocupação, preocupação,
de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.”

Leonardo Boff

Como o homem produz sua existência na contemporaneidade, tendo consciência de que ele também se produz nessa relação?

Questões como Humanidade, Cuidado, Responsabilidade Ambiental, Fraternidade e Vida, foram conceitos centrais e que nortearam a fala do Teólogo Leonardo Boff na última quarta-feira (04/06/2014), no Centro Universitário Integrado de Ciência, Cultura e Arte (CUICA), na abertura da Semana do Meio Ambiente de Palmas, promovido pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), Palmas/TO.

Na conferência intitulada “Meio Ambiente e Cidade – AS 4 Ecologias: Ambiental, Política e Social, Mental e Integral” Boff trouxe um panorama histórico e cultural do olhar do homem para o meio ambiente, enquanto tecia críticas ao modelo de organização social. O mundo no qual vivemos é fruto da ação desse homem concebido pós-capitalismo, e que, frente às revoluções cientificas e tecnológicas, iniciadas no século XVIII, e que ainda se propagam o homem começa a repensar sua inserção posição dicotômica: (ser)humano versus (uni)verso, e assim, produz novos saberes.

Em rápida analise, podemos entender que as transformações históricas e culturais acontecem em nível micro e macro, sempre alinhavada pelo modo como homem se relaciona com o meio ambiente (ecossistema) – de modo direto e indireto – e com seus iguais, aqui abrimos aspas para um tópico importante: a qualidade de nossas relações interpessoais, que também englobam: a promoção/construção de saúde e os processos de adoecimento e organização do modo de trabalho. Nesse aspecto, considero que a psicologia, assim como várias áreas das ciências da saúde e humanas, parece exercer um papel mais efetivo. É nesse cenário que ela encontra elementos para uma intervenção significativa.

Ainda falando de psicologia, acredito que o contexto central é – e parece-me que sempre será – a qualidade das/nas relações humanas, ou seja, o modo de implicação do ser (homem) nessas relações, num cenário de (co)responsabilidades e tomada de consciência/decisão. O resultado de toda e qualquer relação é, portanto, o homem, na produção de sua humanidade. Essa construção do ser não acontece isolada. Mas em nível grupal (relacional), intra e interinstitucional.

Na conjuntura social vigente, vê-se a necessidade de uma transformação no modelo institucional, cientifico, legislativo, cultural, religioso etc. A palavra chave é o Cuidado, não apenas do homem para com o homem, ou do homem para com o meio, mas sim, do homem com o todo, e como parte total desse todo.

É destaque um crescente movimento contrário ao regime social vigente, e que busca acordar nos Seres, habilidades que foram se perdendo, nesse modelo artificial e mecanicista de produção de vida que está posto, e que pauta-se em interesses particulares, muitas vezes de cunho egoísta.

Ao final da conferencia, passei a ver com mais clareza, que os seres são, todavia, resultado direto da qualidade de suas relações (diretas e indiretas), o que implica diretamente na necessidade de uma produção de cuidado. O processo de adoecimento instaura-se numa conjuntura: intra/inter/sujeitos, com o meio e, de volta, consigo mesmo. E não há como se isentar de nossa responsabilidade com o meio ambiente, que é o todo, sistematicamente interligado.