Mercúrio de garimpo não é ameaça para populações ribeirinhas, diz pesquisador

30/03/2012

Nos últimos 60 anos, mais de 900 pessoas morreram envenenadas por consumir peixes contaminados por mercúrio na Baía de Minamata, no Japão. O metal líquido era proveniente de uma fábrica de PVC. Esse episódio ficou conhecido como o Desastre de Minamata. Temia-se que o mesmo pudesse acontecer no Brasil devido à alta quantidade de garimpos na região da Amazônia, uma vez que o mercúrio é usado na extração de ouro. Interessado em descobrir se o temor fazia sentido, o professor José Dórea, da Faculdade de Ciências da Saúde, iniciou uma série de pesquisas sobre o assunto, há cerca de 20 anos. E descobriu que não há sintomas de intoxicação, conforme contou em palestra para alunos da pós-graduação em Nutrição, na tarde desta quinta-feira (29).

Para verificar o teor de mercúrio nas populações locais, Dórea e seus colegas estudaram a concentração do metal no cabelo de mães e crianças da Amazônia. Os fios funcionam como um marcador do consumo de quaisquer alimentos, uma espécie de retrato metabólico do organismo de cada pessoa. “Como o cabelo nasce dentro do corpo e sai, ele registra o que é consumido e depois não sofre alterações. O mesmo acontece com as unhas”, explicou o professor Dórea.

Ele afirma que as populações ribeirinhas e indígenas são expostas à presença do mercúrio, principalmente por causa do consumo de peixes contaminados, mas não apresentam sintomas clínicos de intoxicação. Os níveis de mercúrio encontrados nos peixes dos rios amazônicos variaram de acordo com a espécie, a sazonalidade dos rios e os níveis da cadeia alimentar, mas é possível afirmar que o garimpo representa uma porcentagem pouco significativa da presença do metal nos peixes.

"A comunidade local pode inclusive sofrer conseqüências se abandonar o consumo tradicional do peixe”, disse o professor. De acordo com Dórea, as circunstâncias de vida do povo japonês na época do pós-guerra potencializou os problemas de intoxicação por mercúrio. Em Miamata, as pessoas afetadas sofriam convulsões severas, surtos de psicose, coma e óbito.

Durante anos, o professor Dórea foi contestado pela comunidade acadêmica e acusado de defender garimpeiros. Hoje ele é um dos mais renomados pesquisadores da área de Biomedicina com cerca de 200 artigos publicados em revistas internacionais indexadas como a Journal Medical College of Nutrition, a Environmental Research e a Environmental Health Perspective.

ENSINAMENTOS – “A ciência se faz com mente aberta e capacidade”. Essa foi uma lições que o professor quis passar aos mestrandos e doutorandos. Dórea defendeu que a pesquisa pode ser feita de maneira simples. Para realizar boa parte de suas pesquisas na Amazônia, ele precisou somente de balanças para pesar peixes e crianças e uma tesoura para cortar os cabelos. “Os maiores instrumentos de um cientista são o seu intelecto e a sua integridade. Não é preciso ter aparelhos sofisticados para se fazer boa ciência”, disse.

A sequência das pesquisas de Dórea pretende verificar a influência da presença do mercúrio encontrado em vacinas. “Nos países desenvolvidos já não se usa o mercúrio em vacinas”, afirmou. O professor apresentará resultados destes estudos na continuação de sua palestra, na próxima quinta-feira (5), no auditório 2, do Instituto de Biologia (IB).

Fonte: Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.

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