Hanseníase: O Conceito e o Preconceito

30/09/2011 • Atualizado em 30/09/2011 11:27

A Hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, ou seja, transmissível de um indivíduo doente para um indivíduo saudável. É uma doença milenar, inclusive a Bíblia Sagrada traz em suas passagens inúmeras referências a essa enfermidade, na época conhecida como lepra.

 

Após milênios de existência e alguns anos de estudo, o termo lepra foi substituído pelo termo hanseníase, a fim de dar-lhe um caráter mais técnico-científico. Contudo, a mera mudança de nome nada adiantou em reverter o preconceito que existe contra os pacientes acometidos pela hanseníase, muito menos os mitos que se criaram sobre a doença. O termo hanseníase se instalou então, quase como um eufemismo.

 

Mas que doença é essa que sobre a qual existem tantos mal-entendidos? A hanseníase (também conhecido como Mal de Hansen-MH, ou lepra) é causada por um bacilo (um tipo de bactéria) chamado Mycobacterium Leprae. O bacilo tem afinidade pelas células da pele e pelos nervos periféricos. O bacilo passa de uma pessoa a outra, mas não através do contato físico (como se pensa comumente), e sim através do ar. Uma tática preventiva seria, então, não respirar perto de um paciente hansênico? Isolar o portador de hanseníase em uma câmara fechada? Negativo. A contaminação só acontece através do convívio prolongado (de preferência doméstico). Anos de exposição são necessários para que haja a contaminação. A doença não é transmissível pelos fluídos corporais (saliva, suor, esperma, lágrimas, etc), portanto, o indivíduo portador de hanseníase não precisa deixar de abraçar, beijar, acariciar, ou ter relações sexuais, por medo de contaminar seus próximos.

 

Além disso tudo, é necessário ter predisposição ao bacilo, e a maior parte da população é, na verdade, imune: a vacina BCG é considerada um método de prevenção contra a contaminação pela doença.

 

Soa meio clichê, devido à constante repetição nas propagandas do Ministério da Saúde, mas a hanseníase tem cura. O tratamento, oferecido apenas no serviço público de saúde, é realizado através de medicamentos (Poliquimioterapia) e após 15 dias do início do tratamento, o paciente não mais é capaz de contaminar ninguém. Mas é importante seguir o tratamento até o final, para evitar as seqüelas que surgem a partir da hanseníase.

 

Como dito anteriormente, a hanseníase não é apenas uma doença de pele: ela acomete também os nervos que se localizam nos membros, gerando perda de sensibilidade, perda de força, e posteriormente podendo levar a graves deformações das mãos e dos pés, comprometendo a imagem e a independência dos indivíduos atingidos por esse mal. Os olhos também são acometidos e, sem o devido cuidado, o paciente pode perder por completo a visão. A partir do momento do diagnóstico, é necessário que o SUS acompanhe o estado de saúde do paciente hansênico não somente durante o tratamento, mas também alguns anos depois dele, pois as seqüelas que surgem da hanseníase podem aparecer mesmo anos depois de o paciente ter sido curado. Se estas incapacidades físicas forem detectadas a tempo, podem ser revertidas sem necessidade de intervenção cirúrgica.

 

Portanto, vale à pena relembrar os sinais e sintomas: manchas mais escuras ou mais claras do que a sua tonalidade normal de pele, que não doem nem coçam, formigamento nas mãos e pés, fraqueza muscular e diminuição de sensibilidade podem indicar hanseníase. Se apresentar os sintomas, dirija-se à Unidade de Saúde responsável pela sua região, e faça uma consulta. Oferecer tratamento e orientação é função do SUS, mas tratar-se e eliminar o preconceito sobre essa doença é decisão de cada um.


Tiago Veloso Neves - Acadêmico do curso de Fisioterapia do CEULP-ULBRA, e pesquisador do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde/ Vigilância em Saúde (PET-Saúde/VS)

 

Publicado no Jornal O Girassol

 

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