Já lhe ocorreu que um farmacêutico faz muito mais do que dispensar medicamentos na farmácia? A professora e coordenadora do curso de Farmácia do Centro Universitário Luterano de Palmas - Ceulp/Ulbra, Grace Priscila Pelissari, nos conduziu numa esclarecedora conversa sobre a profissão e quebrou muitos conceitos antigos. Enquanto ler esta entrevista e na próxima vez em que for pensar no profissional de Farmácia, tenha em mente as seguintes palavras: atendimento, atenção, informação, ponte e tratamento. Garanto que elas farão muito sentido para você.
Ceulp/Ulbra: Na sua visão, enquanto coordenadora, o que o curso de Farmácia do Ceulp tem de especial?
Grace: Ele tem de especial a possibilidade de o aluno vivenciar, já durante o curso, todas as possibilidades de atuação do farmacêutico generalista. A gente percebe que nem todas as instituições conseguem isso, em função da dificuldade de encontrar campos de estágio. Então o diferencial do nosso curso é que ele oferece sete estágios e todos os estágios são feitos através de convênios do Ceulp com os locais. O aluno só se matricula no estágio e já tem organizado pela coordenação para qual área ele vai. Além disso, todos eles ocorrem em locais externos, nenhum estágio é realizado aqui, em laboratório, por exemplo. A gente tem todas as disciplinas prévias que preparam este aluno, mas o estágio é uma vivência externa. Nós conseguimos contemplar nos estágios as áreas de dispensação e manipulação de medicamentos, para as quais temos convênio com drogarias, farmácias de manipulação, farmácias municipais e estadual, no Hospital Geral de Palmas, na área hospitalar. Os estágios também ocorrem na Assistência Farmacêutica Estadual, onde a gente trabalha com as demandas judiciais e medicamentos de alto custo. Essa é uma área que muitos farmacêuticos que estão no mercado não tiveram contato e que poucos cursos no Brasil oferecem. Além de estágios na área de análises clínicas, através do nosso laboratório escola. Isso é um grande diferencial e muitos de nossos egressos hoje ocupam cargos de destaque como o de gerência, são donos de drogarias, farmácias de manipulação e eles mesmos nos procuram para oferecer campos de estágio, e assim a gente vê que eles saem e depois retornam à instituição para dar oportunidade aos nossos novos alunos.
Ceulp/Ulbra: O que pode ser destacado quanto à infraestrutura do curso?
Grace: A gente trabalha mais da metade do curso com aulas práticas, então vamos considerar que 50% do curso é prático e todo esse 50% que é oferecido, acontece nos nossos laboratórios. O curso de farmácia tem aula em praticamente todos os laboratórios do complexo laboratorial, passando pelos de análises clínicas, toda a parte de microbiologia, parasitologia e bioquímica clínica, com todos os kits que eles precisam para aprender a fazer os exames, antes de ir para o laboratório escola. No terceiro piso temos os laboratórios de química, de tecnologia farmacêutica e farmacognosia, que trabalha a questão das plantas medicinais. Temos toda a infraestrutura que precisamos para as aulas práticas que acontecem no curso, tanto de equipamentos, quanto de reagentes, para a manutenção. Nós também sempre somos convidados a fazer parceria com a UFT e outras universidades para realizar práticas aqui no nosso complexo. A nossa infraestrutura permite que hoje tenhamos vários produtos que foram desenvolvidos em TCCs de alunos do curso, vinculados a outros cursos da instituição. Essa integração é muito importante para tornar o profissional o mais inteirado possível do que ele pode realizar.
Ceulp/Ulbra: Quais exemplos de produtos desenvolvidos no curso, podem ser destacados?
Grace: Esse semestre, uma aluna que desenvolveu um batom totalmente vegano, sem nada de origem animal, tudo isso com a infraestrutura que a gente tem aqui. Outro aluno que desenvolveu uma formulação para a Veterinária, com o intuito de facilitar a administração de medicação para gatinhos. E a ideia da farmácia é desenvolver formulações, otimizar processos. Então assim, eu tenho problema com aquele animal, mas o que eu posso fazer para facilitar a administração daquele medicamento? E trabalhamos a formulação disso; isso se chama tecnologia farmacêutica, e não é só para humanos. Também muitas vezes a pessoa pensa: vou estudar só os medicamentos que já estão no mercado, e na verdade não; todo o processo de desenvolvimento e pesquisa para novos medicamentos, vêm a partir do farmacêutico. Costumamos dizer que resolvemos problemas para que o tratamento seja realizado da melhor maneira possível.
Ceulp/Ulbra: São desenvolvidas atividades destinadas a prestação de serviço à comunidade?
Grace: Sim, a gente busca muito através dos estágios e das disciplinas manter um contato com a comunidade. Nós temos um estágio específico que trabalha com o atendimento a idosos, buscando verificar se existe algum erro no uso dos medicamentos, se aquele idoso faz o uso correto e no horário correto. A gente chama isso de uso racional, porque não basta uma prescrição para que o tratamento seja feito, e o farmacêutico trabalha nesse sentido. Nós temos tanto estágios na comunidade, quanto estágios nas farmácias municipais, buscando as pessoas e dando acompanhamento. Já houve muitos casos de um grupo de alunos sair da farmácia com o professor e ir até a casa do idoso que tinha dificuldades em utilizar os medicamentos, inclusive dificuldade visual. Depois foi feita uma caixinha, com o sol, a lua, para ele diferenciar o medicamento que ele usa de dia e o que ele usa a noite. Até mesmo colocar as caixinhas em locais específicos para que ele lembre de utilizar, porque nesse caso o idoso morava sozinho. E não só idosos, mas muitos da comunidade em geral têm dificuldade em saber como utilizar de forma correta.
Ceulp/Ulbra: Quais as linhas de pesquisa mais recorrentes no curso?
Grace: As principais linhas de pesquisa têm sido hoje na área de desenvolvimento de produtos e tecnologia farmacêutica. E nisso a gente tem trabalhado com muitos ativos da nossa região, plantas do cerrado, que a gente tenta incorporar, substituindo ativos que já estão hoje nessas formulações. Também temos muitas pesquisas relacionadas à atividade antioxidante, antimicrobiana, também dessas plantas da nossa região. Então a nossa ideia é visar o aspecto regional nas linhas de pesquisa.
Ceulp/Ulbra: Quais as áreas mais comuns em que os egressos de farmácia do Ceulp costumam trabalhar?
Grace: Grande parte do mercado absorve esses egressos na área de dispensação, que é o farmacêutico na drogaria, até mesmo em função da demanda, afinal, a cada dia que passa a gente vê novos estabelecimentos, então acaba absorvendo. Mas temos muitos egressos no serviço público, municipal e estadual, em ambiente hospitalar.
Ceulp/Ulbra: Como você vê a importância do profissional de farmácia?
Grace: Vejo sua importância no sentido de garantir que o paciente faça o uso correto do medicamento prescrito, que ele consiga efetividade nesse tratamento, através de informações que são simples. Buscamos atualização constantemente e hoje o farmacêutico tem um papel muito mais clínico, do que antigamente, isso em nível nacional. Antes nós éramos vistos como o profissional do medicamento, hoje somos vistos como o profissional que vai garantir o tratamento, seja ele com ou sem medicamento, porque o farmacêutico também trabalha na prevenção. Então a gente sempre faz campanhas de aferição de pressão e glicemia, para que as pessoas se atentem que precisam estar de olho na saúde para evitar problemas e não precisem usar medicamentos. Muitas vezes o paciente passa pelo médico, sai com uma prescrição, mas não entende como fazer o uso. O local onde ele tem essa informação de forma gratuita e acessível, é na drogaria e na farmácia, pública ou particular. E é nesse momento que nós entramos com o papel de orientar, de organizar todos aqueles medicamentos. Então talvez ele passe por vários profissionais médicos, o endócrino, o cardiologista e várias especialidades, mas ninguém se atenta que ele tem vinte medicamentos para usar e que de repente, nem todos são necessários. Se necessário, entramos em contato com os profissionais que fizeram a prescrição, pode ser que haja medicamentos prescritos em duplicidade e o leigo não tem noção disso. Quem vai fazer esse tipo de análise? o farmacêutico. Quem reúne todas essas informações, quem presta esse cuidado, faz a atenção farmacêutica de verificar se ele está usando no horário correto é o farmacêutico. Ele tem todo um papel, desde a prevenção, o diagnóstico com a realização de exames, até a efetividade do tratamento com o uso do medicamento. Nós somos o profissional ponte, o facilitador que tem esse objetivo de garantir o melhor tratamento para a pessoa.
Grace Priscila Pelissari é farmacêutica graduada pelo Centro Universitário Luterano de Palmas, mestre em Ciências Farmacêuticas pela UNESP e especialista em Docência no Ensino Superior. É docente do Ceulp/Ulbra desde 2008 e há dez anos coordena o curso de Farmácia.